Teologia Biblica do NT

 

 

"Amas-me?  E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas; tu sabes que te amo" João 21:17).

Eu estava faminto e você criou um clube humanitário para debater o problema de minha fome.  Eu estava encarcerado, e você saiu sorrateiramente em direção à sua igreja e orou pela minha libertação.  Eu estava nu e você, interiormente, debateu a moralidade de minha aparência.  Eu estava doente e você se ajoelhou, agradecendo a Deus por estar gozando plena saúde.  Eu não tinha onde morar e você orou rogando a Deus que me desse o abrigo espiritual de Seu amor.  Eu estava só e você me deixou só e foi orar por mim.  Você parece viver em santidade e bem perto de Deus, mas eu ainda estou faminto, só, e desalentado.



O que tem caracterizado a nossa vida cristã na sociedade em que vivemos?  O mundo tem percebido em nós uma aparência de preocupação pelo próximo ou tem testificado não só a preocupação mas também as atitudes em favor desse mesmo próximo?  Temos apenas orado para solução de problemas ou também agido para que esses problemas sejam solucionados?

O nosso texto bíblico de hoje mostra Pedro reconhecendo que Jesus"sabe todas as coisas", inclusive se o nosso amor para com Ele é verdadeiro.  E, se O amamos, devemos amar também aqueles que nos cercam e que contam com a nossa atuação em favor de suas necessidades.

Será que Deus deseja que oremos e nos preocupemos com os que estão aflitos?  Claro que sim.  E isso basta?  Muitas vezes, não.  Quando Seu amor invade nosso coração, desejamos ardentemente que a graça do Senhor seja derramada sobre todos e que, assim como nós, possam gozar de Suas maravilhosas bênçãos.

Deus sabe todas as coisas.  O que Ele sabe de você?


 

 

 

 

 

Mel dentro de Cadaveres

 

... E, apartando-se do caminho para ver o corpo do leão morto, eis que, neste, havia um enxame de abelhas com mel. Juízes 14:8b


Veja bem: O pecado não se apresenta como algo feio ou errado. Na verdade, ele nos seduz, envolvendo-nos como algo que não trará consequências graves. Podemos escolher o pecado que vamos cometer, mas não as suas consequências.

E para exemplificar isso, falarei de um grande personagem: Sansão, cujo nome significa “Radioso, Pequeno sol”. Ele era nazireu, o que o denomina “consagrado a Deus”. O Senhor o havia escolhido desde o ventre de sua mãe para ser juiz e libertador de Israel, sua nação, que já amargava quarenta anos de sofrimento nas mãos de seus inimigos filisteus.

De acordo com o livro de Números 6:1-7, havia três coisas proibidas ao nazireu:

 

  • Comer ou beber qualquer produto da uva: Um nazireu renunciava a todo prazer e deleite carnal a fim de consagrar-se inteiramente ao Senhor.
  • Cortar os cabelos: O cabelo comprido era um sinal notório de sua chamada, consagração, submissão e obediência a Deus.
  • Tocar em cadáveres: Ser nazireu era mais que rejeitar o pecado ou a carne, era rejeitar tudo o que estivesse impregnado de morte.

Sansão morava bem próximo da fronteira do inimigo e tentou lutar contra os mesmos aliando-se a eles. E é assim que muitas vezes acontece; muitos não vivem no pecado ou no mundo, mas na fronteira de ambos, que é perigosa e escorregadia, e quando a ultrapassam se desviam e caem.

Com Sansão foi assim. Ele violou sistematicamente seus votos, queria ver quão perto do fogo podia chegar sem se queimar, e quem brinca com o pecado, uma hora se queima. Juízes 14:1- 8 mostra-nos exatamente o que Sansão fez de errado e também como podemos cometer os mesmos erros:

  • Achamos que a grama do inimigo parece mais verde (versos 1 e 2): Desobedeceu a Deus quando se apaixonou por uma mulher do povo inimigo e passeou inconsequentemente pela plantação de uva (verso 5º) por causa do seu voto de nazireu.
  • Acreditamos que sabemos mais que a Bíblia e nossos pais (versos 2 e 3): Foi obstinado quando quis decidir por ele mesmo o que era melhor para a sua vida.
  • Ignoramos as placas de sinalização e advertência (verso 3): Ingênuo, pensou que nunca lhe aconteceria nada de mal – “eu quero” , “eu sei o que é melhor pra mim”.
  • Nos sentimos fortes demais (verso 5b): Sentiu-se autossuficiente quando acreditou que sua força física poderia neutralizar as consequências espirituais do seu pecado.
  • Descuidamos da comunicação familiar (verso 6 e 9): Insensato, ocultou a verdade para os seus pais.
  • Temos curiosidade de ver o que há fora do caminho (verso 8): Imprudente, se desviou do caminho para ver o leão morto.

A fonte de nossa força espiritual é a obediência. E o inimigo sabe que sem obediência não temos força; por isso, ele procura seduzir-nos com o intuito de quebrar nossa comunhão com Deus. Dentro do cadáver do leão havia um enxame de abelhas com mel (Jz 14:8): Veja a astúcia e sutileza do pecado, “a doçura coberta de morte”. Uma armadilha perfeita para um nazireu, que não podia tocar em coisas mortas, mas não lhe era errado tomar o mel. Essa é a estratégia “seringa” de satanás, o mel era a agulha, algo lícito, doce e bonito, mas, uma vez introduzida a agulha, o veneno mortal podia ser injetado na vida de Sansão e causar-lhe a morte, morte espiritual..

Cuidado com o Mel dentro de Cadáveres!

Deus não pode encher uma pessoa que está cheia de si mesma e não aceita menos que “tudo”. Mesmo sendo salvos, abençoados e livres para sermos usados por Deus, nós, tal como Sansão, muitas vezes temos que chegar ao fundo do poço para reconhecer que Deus é a única razão da nossa força, pois o “poder de Deus se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Coríntios 12:9). Falta-nos intimidade com Deus e sobra intimidade com o inimigo, brincamos com o perigo e nos machucamos feio. Nos envolvemos com coisas pecaminosas e queremos compensar o nosso fracasso espiritual com sucesso material, esquecendo-nos de que Deus não olha para a nossa força ou aquilo que somos materialmente, mas para o nosso coração.

Mas, para o nosso consolo e alegria, a palavra de Deus diz que Sansão foi enterrado entre Zorá e Estaol (Jz 16:31), no mesmo lugar onde Deus começou a dirigir a sua vida (Jz 13:25). Isso mostra-nos que ele terminou sua vida onde começou. Podemos então dizer que Deus concedeu a Sansão uma segunda chance e o restaurou.

Você deseja hoje, agora, ser restaurado por Deus? Começar novamente e voltar ao início de tudo?

Nunca esqueça:

Deus deseja fazer grandes coisas através de nós...Apesar de nós.

Em Cristo,
Pr. Marcos Góes

Fonte: marcosgoes.art.br  |  NTGospel.com

 

 

 

 

 

 

 Perdemos Jesus, conserve suas palavras no coração.

                            Prof. Reginaldo Marcelo*                                                                                                            

O Evangelho de Lucas nos dá a única informação bíblica a respeito da adolescência de Jesus. A narrativa deseja acentuar o mistério que cercava a vida de Jesus desde a infância e o poder de Deus que agia nele, dando-lhe ousadia e sabedoria que espantava, os doutores e maravilhavam até mesmo seus pais.

Todos os anos, com a chegada da primavera, as famílias judias começavam a preparar uma alegre viagem.

Logo iriam todos a Jerusalém para celebrar a festa da Páscoa, que lembrava o tempo em que Deus livrara o seu povo do cativeiro do Egito, muitos anos atrás.

Esta festa reunia peregrinos de todos os lugares de Israel, então se formavam uma grande multidão a caminho do Templo pelas ruas estreitas.

Quando Jesus tinha doze anos, Ele foi com os seus pais a Jerusalém para participar das comemorações. Ao final de uma semana de festas e solenidades, as mães tomaram o caminho de volta casa com seus filhos e seriam mais tarde alcançados pelos pais. Só à noite é que Maria e José se encontraram novamente.

Maria estremeceu. Ela pensava que estivesse com os homens, pois, aos doze anos, já passara da idade de ir com os menores, como era o costume.

Perguntaram a todos que estiveram na festa, mas ninguém sabia informar. Retornaram correndo a Jerusalém e passaram a procurá-lo em todos os lugares, mas inutilmente.

A preocupação de José e Maria era imensa, pois há três dias o procuravam. O único lugar aonde não tinham ido era o Templo. Foi com alegria e alívio que encontraram Jesus, sentado entre os doutores em religião, a debater com eles questões de grande importância e demonstrando enorme sabedoria. E ver a admiração de todos os que o rodeavam.

Maria, ainda não totalmente refeita da aflição, perguntou-lhe:

- Meu filho, por que nos fizeste isso? Teu pai e eu estávamos preocupados.

 

Jesus explicou então que não havia motivo para preocupação, pois durante todo aquele tempo Ele tinha estado na casa de Deus, seu Pai.

Mas eles não compreenderam o que disseram, porém sua mãe conservava todas essas coisas no coração. Então voltaram e Jesus permaneceu obediente a eles.

E Jesus crescia não só em estatura, mas em graça e sabedoria, diante de Deus e dos homens.
Alguns perdem Jesus quando são magoados por alguém, e ao invés de liberar perdão, deixam uma raiz de amargura plantada dentro do coração.

Outros, perdem a Jesus quando encontram uma pessoa que lhe pede um prato de comida, e tendo o que dar para comer, apenas lhe dizem: "Deus te abençoe, vá na paz do Senhor".

Muitos perdem a Jesus quando o trocam pela religiosidade, fazendo dos dogmas e liturgias uma bíblia e das idéias humanas um deus.

Onde está Jesus? Ele está no ato do perdão, no ato da liberalidade, na busca da paz com todos e na busca incessante pelo amor.

A fé não é regida pela lógica da compreensão intelectual das coisas, e sim pela proximidade de Jesus. Algumas vezes realmente ouvimos as palavras do evangelho, o sermão do monte, parábolas, discursos ou ensinos de Jesus e ficamos sem entender muito bem a que se referem ou como aplicá-las a vida.

Maria nos dá o exemplo a ser seguido: mesmo sem compreender tudo, é preciso guardar certas coisas “no coração”. A Fé cristã não se baseia na lógica ou na compreensão, mas, sobretudo na disposição e vontade de permanecer com e em Cristo

A liturgia deste domingo pode nos inspirar a fazermos uma “resolução de ano novo” que em 2010 estejamos abertos a nos maravilharmos com as surpresas inesperadas que Deus nos reserva; que não nos afastemos de Jesus, como fizeram seus pais; que, mesmo que nos afastemos e nos sintamos aflitos, voltemos em sua procura; que guardemos no coração tudo aquilo que ainda não nos é dado a compreender; e que busquemos Para nós e para outros, um crescimento integral em todas as dimensões da vida.



* Prof. Reginaldo Marcelo, é teologo, professor de hisatória e seminarista da IEAB

 

VIVER OS VALORES E PRECEITOS DE DEUS
*Rev. Antonio Bastos

 

É no caminho de Jerusalém que Jesus mostra o que nós devemos evitar a todo custo: Pensar no Espírito Santo de Deus como propriedade particular. É no caminho de Jerusalém que Jesus demonstra que não precisamos ficar preocupados com a ação de Deus através de alguém que não seja do nosso grupo;
Assim, Jesus evidencia que não podemos incrementar sonhos de poder e de grandeza, nem tampouco colocar salvaguardas ou medidas protecionistas no agir de Deus. Até porque Deus é soberano; Deus é livre e age do jeito que quer. Deus utiliza qualquer meio regular para expor a Sua Graça e o Seu amor. Veja que usei propositadamente a expressão "meio regular", porque não podemos descrever a ação de Deus dessa ou daquela forma... Deus envia a Sua Graça e amor quando e do jeito que determina a Sua infinita bondade. E ponto. Que não é um ponto final, mas sim ponto eterno.
Meus queridos, não dá para enlatar o agir de Deus com idéias e conceitos pré-fabricados! Nem tampouco tentar proteger os interesses egoístas que teimam em se apossar no nosso coração. Não dá para, sob o pretexto de defender a "pureza da fé", a "moralidade" ou "tranqüilidade da comunidade", afastar aqueles que desafiam os conceitos já estabelecidos; não dá para afastar aqueles que procuram novos caminhos para responder aos desafios que são feitos pelo próprio Deus. É essa é razão que faz Jesus usar imagens e uma linguagem tipicamente semítica, quando manda cortar e jogar fora "a mão", "o pé", e "o olho". Essas afirmações ainda hoje causam grandes escândalos, imagine naqueles dias!
Porém, afirmo, para tranqüilizar muitos, que Jesus não estava propondo uma mutilação física; mesmo que, ao longo da história, houvesse pessoas quem assim entendessem. A "mão" significa a nossa maneira de agir; já o "pé" o modo de caminhar na vida; e, por fim o "olho" o jeito de ver e julgar as coisas, as pessoas e até as ideologias. Jesus ao afirmar que "se a sua mão é ocasião de escândalo para você, corte-a; (...) se o seu pé é ocasião de escândalo para você, corte-o; (...) Se o seu olho é ocasião de escândalo para você, arranque-o" na verdade nos intima a reveremos os nossos conceitos e pré-conceitos; Jesus nos intima a reveremos a nossa forma de agir e reagir diante das coisas de Deus; por isso, Jesus, utilizando a forma enfática que Lhe é peculiar, determina: Mude, jogue fora tudo aquilo que cause problema!
E, mudar, jogar fora tudo aquilo que cause problema é necessário para quem quer seguir a Jesus como um discípulo. Por isso, trecho por trecho, Jesus nos vai desafiando; trecho por trecho, Jesus vai semeando em nós os valores do Reino de Deus. Jesus, nesta manhã, nos desafia a praticarmos um diálogo inter-religioso franco e sem conceitos pré-estabelecidos; Jesus nos desafia para que a nossa experiência cristã seja uma amostra real dos valores do Reino de Deus. Jesus nos diz que precisamos deixar de lado nossas diferenças e procurar juntar forças, seguindo a risca os Seus preceitos e as Suas determinações. E, olha, não há como flexibilizar nesse ponto. Até porque, como disse o Apóstolo Paulo aos habitantes da Galácia: "Maldito aquele que anunciar a vocês um evangelho diferente daquele que anunciamos, ainda que sejamos nós mesmos ou algum anjo do céu" (Gl 1,8);
Ou seja, a caminhada para Jerusalém é um grande ensinamento de Jesus para quem quer segui-LO como discípulo. Trecho por trecho, o próprio Cristo vai desafiando a mentalidade dos discípulos, tão marcada pelos valores da sociedade judaica da época, e procurando semear os valores do Reino de Deus. E, hoje não é diferente, Ele nos desafia a praticarmos um verdadeiro ecumenismo e diálogo inter-religioso, e a revermos o nosso modo de agir e pensar, para que a experiência cristã de comunidade seja uma amostra real dos valores do Reino de Deus.
Pois, Cristo, na Sua primeira vinda, veio ao mundo "como a chuva sobre um velo e como a água que corre gota a gota sobre a terra" (Sl 71,6); e, assim Ele concedeu a todos nós, as indicações sobre as atitudes que devemos tomar frente às alternativas que marcam a nossa caminhada; com isso, Deus nos instiga sobre qual a atitude correta para esperá-LO. É exatamente ai que algumas pessoas começam a "pensar" que Ele é exclusividade. Dileto engano! Cristo nos mostra que o Seu objetivo maior nos fazer aprender (ou recordar dependendo da situação), que o nosso dever maior é de guardar e fazer frutificar os tesouros e a missão que Ele nos confiou.
Até porque, ao deixar este mundo para voltar para junto do Pai, Cristo disse aos discípulos e também a todos nós: "ide pelo mundo inteiro e proclamai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16,15); ou seja, a nossa tarefa é construir o "Reino de Deus", transformando o mundo de acordo com os Seus valores e preceitos. Caso não estejamos conseguindo fazer isso à incompetência é nossa (e me incluo neste grupo!). Pois, cada um de nós é um herdeiro direto dos discípulos de Jesus, e por esse motivo somos convidados por Deus para que possamos viver segundo o Seu projeto para a nossa vida; pois, "não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus," (II C
o 3,5).

 

* Rev. Antonio Bastos, teólogo, administrador Apostólico da Diocese de São Paulo da IAAB

 

A síntese do Ministério de Jesus

Rev. Antonio Bastos

 

Iremos nos deparar com uma lição maravilhosa de Jesus, descrita nos versículos de 30 a 37 do capítulo 9 do Evangelho de Marcos que afirma: Se alguém quer ser primeiro, seja o último e um verdadeiro servidor de todos. Essa descrição de Marcos pode ser dividida em duas partes diferentes; porém, ambas com a mesma base comum.

A primeira é uma análise do próprio Jesus sobre o que aconteceria em Jerusalém, cuja viagem acabava de se iniciar. A segunda é a lição sobre quem viria a ser o melhor dos discípulos. Na realidade podemos unir ambas sob o conceito de que é preciso perder a vida para ganhá-la definitivamente (Mc 8,35).

E, para isso, Jesus apresenta o Seu próprio exemplo de vida como paradigma: Ele irá morrer como um escravo mais humilde, para servir de sacrifício pelos pecados de toda a humanidade, sem distinção. E, na sua morte, como aconteceu no seu nascimento, Jesus se coloca no último lugar como serviço à humanidade; a serviço de mim e de você.

Não podemos esquecer que esse episódio acontece quando Jesus estava atravessando a Galileia a caminho de Jerusalém, quando os discípulos esperavam o triunfo e a exaltação de Jesus como Messias. E, os discípulos tinham recebido duas lições sobre o tema: Uma imediata e direta, em decorrência da resposta de Pedro sobre o Ministério de Jesus (Mc 8,31) e a outra, um pouco antes, no monte da transfiguração, quando entre duas testemunhas proféticas se falava de sua morte (Lc 9,31), se bem que nesta última, somente três deles estavam presentes.

Mesmo assim, aquele grupo ainda estava bem confuso e para tentar dirimir as dúvidas, sentou e chamou os doze. Essa era a clássica postura dos mestres de Israel que se assentava sobre um coxim ou almofada enquanto os discípulos rodeavam o mestre, sentados em círculo no chão cruzando as pernas e fala a síntese do Seu Ministério: “Se alguém quer ser o primeiro, deverá ser o último, e ser aquele que serve a todos” (Mc 9,35).

É exatamente neste momento que Jesus passa a eles uma lição perfeita afirmando que no Reino de Deus as relações seriam completamente diferentes das que existiam na sociedade. O maior não é aquele que domina que tem poder político ou militar, mas sim aquele que serve;

Na verdade, Jesus estava falando que todo aquele que quiser entrar no reino de Deus terá que ser puro de coração, exatamente como as crianças. Foi por isso que Jesus usou uma criança como exemplo, porque naqueles dias a criança não tinha qualquer valor nem tampouco estatuto da criança; ser criança era ocupar o último lugar na escala social atrás dos escravos e das mulheres. Não existia a idéia que a criança era o futuro, nem tampouco psicólogos que defendiam um agir diferente para as crianças para não deixa-las traumatizadas. Por isso, diante da velada recusa dos discípulos em entender a Sua mensagem sobre o Reino de Deus, Jesus pega uma criança como símbolo de quem deve seguí-LO.

É assim, os discípulos são convidados a se despojar de tudo para serem servos. Foi isso que a Apóstolo Paulo falou na sua carta aos habitantes de Filipos: Jesus “Não se apegou à sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens. Assim, apresentando-se como simples homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte da cruz” (Fl 2,6-8).

Ou seja, Jesus se traduz em serviço até a doação da Sua própria vida. Por isso, ser um discípulo de Jesus é, indiscutivelmente, tomar posição fazendo resplandecer o Seu amor na nossa face e nos colocando a serviço de Deus e das pessoas que precisam ouvir, entender e praticar os preceitos e parâmetros ensinados por Cristo.

Essa é a razão que me faz afirmar que a cena mais marcante desta parte do Evangelho de Marcos é protagonizada por uma criança no centro do grupo. É o próprio Jesus quem a coloca aí, abraçando-a.

A criança aqui é o sinônimo de uma pessoa que necessitada de apoio e proteção; por isso, Jesus a coloca como centro de atenção dos discípulos. E para ela tem um gesto de carinho e de acolhida: o abraço. Portanto, com esse gesto Jesus está mostrando o que é ser seu discípulo, o que significa ser o maior dentro da comunidade: maior é aquele que acolhe todos àqueles que abrem seu coração para Ele e buscam adorá-LO em espírito e em verdade, além da conclusão de que “é necessário que Ele cresça e que eu diminua” (Jo 3,30).